quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Amêndoa

teu olho amêndoa
não volta mais a ser escuridão
apenas
teu olho profundo
dança agora no raso
escuro do meu medo

teus olhos abrem-se
- a dor do mundo estilhaçada
cristalina
e vã
rachadura microscópica
entre vãos e certezas

os dedos que tocam a doçura vítrea
do teu corpo noturno
se perdem sem rumo
entre vidas, entrecorpos
cabeças embaralhadas
dedos a catar frutos e folhas
a deslizar teu corpo teso
preciso
e milimétrico

torno-me teu escravo
 e do cianeto das tuas canções
ando torto entre
vidas e morte
entre
noite e vulto
entre eu e você
perdido no
dourado do teu cabelo

(teu olho amêndoa é um pingo de
mercúrio líquido
a me derreter por dentro)