domingo, 28 de dezembro de 2008

Violão

Ele me comanda, na verdade vem me controlando há algum tempo. Possui uma atração sobre mim quase que magnética, move meus dedos de forma mais ordenada possivel, como uma dança, onde dedos se comportam como bailarinos. Me usa como instrumento de sua harmonia prodigiosa, emana através de mim uma arte unica, inigualavel e inevitavel, inevitavel sim, pois não há como retirar de dentro de si algo que já penetrou, mesmo que algumas vezes inconscientemente, em sua alma. Transforma meu corpo em uma caixa ressonante que vibra junta e prontamente ao seu comando. Quando quer, e somente quando quer, me deixa ter algum controle sobre si, fazendo com que pareça eu o verdadeiro mentor dessa parceria. A vibração de suas cordas parece fluir numa corrente continua para dentro, onde não há volta e que vai cada vez mais fundo, fazendo com que eu me torne quase que dependente de sua vontade. A interação é tanta que é quase possivel sentir na boca o gosto das notas melodicas que ele me obriga a arrancar-lhe, como se fossem suspiros de açucar. Não pode me perceber à toa que me atrai com seu brilho de verniz, me chamando para ter as unhas arranhadas por suas cordas de nailon revestidas com metal e ter os dedos coloridos de verde devido à sua oxidação. Não só me usa como sofre uma séria influencia com a minha presença, pois eu, e somente eu, sei tratá-lo da maneira certa, talvez seja até por isso que me trate com tamanha possessividade e ciúme.

Um comentário:

Pilar Valente disse...

Se fosse eu quem tivesse escrito esse texto o título seria "Octavio". Muito bom, como sempre.
Saudades ;*