quarta-feira, 18 de maio de 2011
Estilhaço
Não lembro se te vi outro dia enquanto passava perto da padaria em que nos encontramos e paramos para comer joelhos e salgadinhos juntos na padaria do Manoel pertinho lá da sua casa. Também não me lembro das formas que o seu rosto mostrava pra mim ou se o seu rosto era o meu lugar onde perdia todas as noções de espaço, tempo, ou qualquer outro sentido terreno e humano. Não lembro os tempos, as formas que queria ter visto ao encontrar seus belos olhos quando passei de novo pela padaria, ou se realmente te vi quando passei por aquela padaria. Não me lembro de você. Não me lembro de quando te vi na padaria do Manoel onde paramos para comer alguns folheados e docinhos. Nem a cor dos olhos que vi refletidos no vidro do tampo da mesa em que sentei sozinho outro dia numa padaria que fica no centro e é bastante longe da sua casa ou da minha. Padaria boa, aliás. Não lembro se vendia folheados, mas lembro que havia uns pães doces maravilhosos e que pedimos 3: um pra eu comer e os outros dois para eu olhar você comendo. É tudo tão confuso e desencontrado quando estou com seus olhos me olhando de perto. Não lembro quantas vezes cheguei a comentar isso com você mas eu tenho a impressão que eu te vi outro dia enquanto passava perto daquela padaria do Manoel que você dizia que era horrível e que nunca iria por os pés naquela espelunca. Eu não lembro mas realmente acho que te vi naquele dia, e que você fez de conta que precisava atravessar a rua e ir para o outro lado e quando corri atrás vi que luzes verdes se acenderam sem propósito nenhum. Depois disso fica difícil lembrar a cor dos seus olhos. Eu tento até lembrar de coisas que me dizia enquanto íamos tomar chá em várias padarias inclusive a do Manoel, mas realmente não sou capaz de lembrar qual padaria era a sua preferida. Provavelmente é a do Manoel pois é bem perto da sua casa. Ou talvez seja a do centro onde sempre comemos bolo de cenoura e bolinhos e que fica pertinho da sua casa, já que é na mesma rua que a padaria do Manoel. Não lembro a cor dos seus cabelos nem o jeito que eles fazem quando balançam ou a cor da luz que eles projetam na parede do meu armário quando o sol começa a acordar. Só lembro que te vi outro dia enquanto passava perto da padaria, disso tenho certeza agora, e lembro que você veio ao meu encontro com seu sorriso de mil galáxias aberto pros meus abraços apertados e que sentados na sua padaria predileta (a do Manoel) comemos madrilenos cheios de creme e goiabada que você gosta e chá de paixão que eu gosto e que sempre tomo na padaria do Centro, mas que nunca tem na padaria do Manoel.
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Um comentário:
Genial! Me emocionou de uma forma desconhecida, que pouco sinto... Parabéns!
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