sábado, 21 de fevereiro de 2009
Cortando o mal pela raiz
Saíram do teatro fascinados com o esplendor da obra. Roberto ia ao volante enquanto Sonia já cochilava no banco do carona. Havia sido uma noite maravilhosa naquele aniversário de 5 anos de casamento. Sonia era visivelmente muitos anos mais jovem que Roberto, o que já fora motivo para muita discriminação. Devido também à diferença de tempo, Roberto sentia que sua esposa seguia a vida um tanto quanto entediada. Eram raros dias como esse, em que saíam em busca de algum entretenimento. Normalmente no começo da noite Roberto já sentia o cansaço de um dia inteiro de trabalho na sua loja de doces lhe abater. Tinha que trabalhar tanto, na função de caixa, que não conseguia dedicar o tempo nem atenção que julgava necessários à sua querida mulher. Sonia tivera uma infância privada de confortos ou mordomias, vivera sua vida infantil e adolescente numa humilde casa com seus pais que tanto trabalhavam para que tivessem ao menos algum alimento e roupas para se cobrir. Ao contrário, Roberto vivera em ótimas condições aquisitivas, uma vez que seu pai construíra aquela loja de doces frequentadíssima e que agora lhe pertencia por uma questão hereditária. Quando casou com Roberto, Sonia teve que se adaptar ao fato de possuir algum dinheiro de sobra. E como alguns, ou melhor, a maioria sabe, o dinheiro é capaz de proezas inacreditáveis em questão de beleza. Mulheres completamente desprovidas de beleza, são transformadas em elegantes e formosas damas, imaginem então o que o dinheiro foi capaz de fazer com Sonia que era uma mulher relativamente bela, apesar da simplicidade. Tornou-se uma mulher desejável, cobiçada por muitos. A vizinhança teimava em questionar o estranho e curioso porquê de uma mulher tão esbelta e jovial conservar-se casada com um homem já velho, franzino e sem vigor. O mais intrigado com a união, nem morador das redondezas era, estava ali apenas de férias, pois algum tempo depois teria que voltar a servir seu país como um simples e fiel marinheiro. Chamava-se André e se interessou tanto em Sonia que passava horas dentro da loja só para vê-la corar com os olhares provocativos que lhe dirigia, já que Sonia servia como garçonete algumas vezes. Completamente atraída pelo jovem atlético de cabelos curtos e negros, deixou-lhe um bilhete no guardanapo um pouco antes do cavalheiro retirar-se. Começaram a se encontrar furtivamente no quarto que André estava hospedado no hotel da esquina, logo depois que Roberto caía no sono. Roberto notava Sonia muito distraída e vez ou outra a surpreendeu suspirando pelos cantos. Achou estranho, porém resolveu não perguntá-la nada e investigar por conta própria. André teve que voltar para a marinha e prometeu a Sonia que voltaria assim que pudesse para dar um jeito de ficarem juntos. Depois que André partiu, Sonia passou a viver somente em função das cartas que recebia semanalmente, vivia deprimida e calada, com os olhos sempre inchados por conta do choro aflito e desesperado. Roberto percebeu a diferença brusca no comportamento de Sonia e deduziu que o suposto amante deveria tê-la deixado, percebeu também o sorriso melancólico que Sonia dava quando recebia as correspondências. Numa tarde em que Sonia fora fazer compras, Roberto deixou o balcão da loja vazio e foi até em casa para averiguar, minuciosamente, o quarto de Sonia, em busca de provas. Lá encontrou, no bolso de um casaco que ele mesmo havia comprado para ela, um maço de cartas preso por um fino e frágil barbante. Confirmou suas suspeitas e ficou a par de toda a desgraça que se espalhava sobre sua vida, até então, tão pacata. Tanto foi o choque que levou, que formulou um plano insanamente maldoso. Passou algumas semanas fazendo os preparativos, e após isso, estava completamente seguro da tarefa que ele mesmo se destinara. No dia planejado, no final da tarde, Roberto pediu para que Sonia o substituísse por alguns minutos e escondeu-se atrás da porta da sua casa. Quando Sonia ouviu os dois estampidos e clarões que se seguiram, correu até a entrada da casa e viu um par de botas para fora do portão. Sonia alcançou a porta e viu o sangue saindo do corpo uniformizado do homem. Sonia perdeu os sentidos e quando acordou estava no sofá de casa. Então completamente arrependido, Roberto lhe explicara que lhe amava muito para deixar que ela se envolvesse com outro, e que só atirara para que não recebesse mais aquelas cartas, pois era só isso que precisava para reconquistar-lhe, precisava de um tempo sem aquelas cartas atrapalhando, justamente por isso que resolvera matar o pobre e inocente carteiro. Como realmente pensara, Roberto conseguiu conquistar sua mulher por mais uma vez e assim continuaram a vida: Sonia, Roberto e o carteiro. Não! o carteiro não! Pelo bem maior, é claro.
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Um comentário:
Caraca! Isso que é, realmente, cortar o mal pela raiz. rsrs
Maneiro cara! Eu tava começando a achar que se a vítima fosse o marinheiro, estaria muito óbvio... rsrs Muito bom cara! Continue! Fica com Deus! Abração!!
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